O Parto

Um tipo de ocorrência bastante comum, principalmente nas áreas mais carentes de Fortaleza é a chamada emergência obstétrica, ocorre geralmente pela madrugada, já que a locomoção é mais difícil e os familiares não podem arcar com o preço de um táxi.

Muitas vezes os bombeiros são chamados no ultimo instante, quando não há mais tempo de chegar a um hospital e o auxílio ao parto tem que ser realizado na residência mesmo ou dentro da ambulância.

Numas dessas madrugadas estava eu de serviço acompanhado do soldado André quando fomos acionados para socorrer uma futura mãezinha em sua residência.

Nos dirigimos ao local. A casa ficava no primeiro andar de um sobrado, a escada era externa e em forma de "L". O curioso é que o "projetista" deve ter errado o calculo e na curva da escada o degrau tinha cerca de sessenta centimetros de altura, ou seja, totalmente fora dos padrões.

Subimos para realizar a anamnese, que consiste em coletar os primeiros dados sobre a atendimento (sinais vitais, período da gestação, etc) e constatamos que o parto era iminente.

-André, corre lá na viatura e pega o kit de parto - falei já calçando as luvas.

-Beleza Alves, tô indo buscar...

Nesse interím, pedi que algumas pessoas me auxiliassem a acomodar a parturiente e que outras deixassem o local.

Verifiquei que a cabeça do bebê já estava aparecendo, o que chamamos de coroamento, quando de repente ouve-se um grande barulho vindo de fora e alguns gritos e gargalhadas....

-Corre bombeiro, teu amigo caiu da escada!

Não é que o André esqueceu do detalhe da escada e literalmente desmorou abaixo? Fiquei em dúvida se ia socorrer meu companheiro de serviço ou continuava no atendimento ao parto.

-Ele tá vivo? Quebrou algum osso? Diante da resposta de que estava tubo bem...

-Só tá com alguns arranhões... Informaram

-Ah, agora ele vai ter que se virar sozinho, a criança já tá nascendo.

Alguns minutos depois o André sobe todo arranhado trazendo o kit de parto à mão e terminamos com sucesso mais uma ocorrência.