domingo, janeiro 14

A palestra

Embora todos os bombeiros sejam capacitados para as mais diversas missões, isso não significa necessariamente que esses mesmos bombeiros sejam desinibidos o bastante, para passar seus conhecimentos a outras pessoas.
Alguns tem mais e outros menos interesse em ministrar palestras em escolas, empresas ou no próprio quartel, quando ocorrem visitas de escolas ao grande Casarão vermelho.
Há alguns anos, quando eu ainda pertencia ao Núcleo de Resgate, um comandante que passou por lá, decidiu que todos os bombeiros deveriam dar palestras.
Aconteceu que, um certo sargento, que vou chamar aqui por Sargento M., foi escalado juntamente com outro bombeiro, para uma escola de ensino infantil, para falar sobre prevenção a acidentes e primeiros socorros.
No caminho, como era mais antigo, o sargento M, decidiu:
-Olha bombeiro, quando chegar lá, você que é mais desenrolado, faz a apresentação e vai falando sobre tudo, quando chegar em um assunto que eu domino mais, eu dou um toque e você me passa a palavra.
-Beleza sargento, pode deixar
A escola estava lotada por crianças de quatro a sete anos e seus pais, eram cerca de oitenta pessoas no pátio e tudo foi feito conforme o combinado, o bombeiro fez a apresentação, falou sobre acidentes domésticos, primeiros socorros, respondeu perguntas sobre a profissão e o sargento M calado estava, calado ficou,
O bombeiro que desde o início falava e estava já sem assunto, decidiu sem consultar o sargento, passar-lhe a palavra.
-Pronto pessoal, já falei demais, passo agora a palavra ao sargento M...
O sargento, pego de surpresa, já que esperava que seu companheiro concluísse toda a palestra e não tinha a mínima intenção de pronunciar-se, viu-se num aperreio, olhou para um lado e para o outro, coçou a cabeça, tentou falar alguma coisa, mas a voz não saía, então tomou coragem e falou:
-Repasso a palavra para o meu companheiro...
Os adultos presentes notaram a agonia do sargento e de um certo modo compreenderam, mas as crianças... Com criança não tem jeito, lascaram uma tremenda vaia no sargento que saiu da escolinha revoltado com seu companheiro e pedindo desesperado que não espalhasse a estória no quartel.

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